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Não-conformidade de linguagem

Aviso de conteúdo: exorsexismo, colonização, contém links externos.

Não-conformidade de linguagem é um conceito que formulei em 2018. Aqui, nesta postagem, explorarei melhor as implicações e os usos desse conceito. Mas quem tiver curiosidade pode ver a postagem original aqui.

Em termos gerais, uma pessoa não-conformista de linguagem (NCL) é toda pessoa que não usa uma linguagem de gênero aceita dentro de um idioma, ou imposta de acordo com determinada identidade de gênero.

Portanto, as pessoas inclusas nesse conceito são:

– pessoas binárias que usam exclusivamente a outra linguagem não associada a seu gênero;

– pessoas não-binárias que usam exclusivamente a outra linguagem que não lhes foi designada;

– pessoas que usam exclusivamente ou não uma sintaxe neutra possível;

– pessoas que usam ambas as linguagens validadas num idioma binarista;

– pessoas que usam uma linguagem validada dentro do idioma, mas não prevista para ser usada por alguém;

– pessoas que usam neolinguagens e outras opções fora das normas;

– e pessoas que usam qualquer ou todas as linguagens possíveis.

O conceito foi pensado mais no contexto da língua portuguesa, que tem vários elementos que compõem uma linguagem pessoal (artigos, pronomes, desinências, etc). Dependendo do país e seu idioma, o nome pode ser adaptado para “não-conformidade de pronome” (ex: inglês) ou alguma outra opção. A ideia continua a mesma.

Pensei nesse conceito tendo como inspiração o conceito de não-conformidade de gênero (NCG), que é toda pessoa com uma expressão de gênero fora das normas sociais. Tecnicamente, NCLs estão dentro de NCG, pois a linguagem pessoal é parte da expressão de gênero.

O conceito foi formulado considerando a questão específica do exorsexismo linguístico ou do binarismo de gênero refletidos em idiomas e suas culturas.

Logo, não é uma questão que atinge pessoas binárias (cis, trans, ipso, etc) que estão de acordo com a linguagem atribuída a seus gêneros, e que usam exclusivamente essa linguagem. Pessoas cis têm o respeito a sua linguagem garantido, enquanto pessoas cisdissidentes terão a linguagem respeitada ao terem seu gênero reconhecido (o desrespeito nessa situação envolveria cissexismo, mas sem exorsexismo).

Essa questão talvez não atinja também pessoas fora do binário de gênero que usem exclusivamente a linguagem designada e que estão confortáveis ou em harmonia com ela (mas ainda sejam alvos das demais formas de exorsexismo). Dou ênfase nisso, pois nem toda pessoa que usa apenas a linguagem designada a usa por livre e espontânea vontade, como nos casos de pessoas que desconhecem neolinguagem ou que são nativas de um idioma sem uma alternativa proposta (ex: japonês). Confesso que isso não foi algo que considerei quando formulei o conceito.

E, falando no contexto latino-americano, esse conceito pode ou não fazer sentido para travestis. O consenso atual é que travesti é uma identidade transfeminina, e que o uso de a/ela/a é padrão para esse grupo, da mesma forma que é para mulheres. No entanto, temos as seguintes duas questões: a) travesti não é um gênero reconhecido pelo sistema vigente, ao contrário de mulher; e b) há travestis que ainda usam o/ele/o e/ou neolinguagens. Acredito que o melhor é deixar a pessoa decidir se o conceito vale ou não para ela e sua realidade.

Caso o quinto item sobre pessoas inclusas no conceito não tenha ficado compreensível, esse conceito engloba pronomes neutros aceitos ou em processo de aceitação em idiomas com uma estrutura binarista, o que inclui o they singular no inglês e o hen no sueco. E também pronomes usados para tudo que não for humano sendo reclamados por humanes, como o pronome it do inglês.

Esse conceito pode não fazer sentido em idiomas com apenas uma opção de linguagem pessoal (ex: cantonês tem só um pronome pessoal) ou sem marcadores de gênero (ex: coreano, ainda que possua marcadores opcionais), ou em culturas com mais de duas identidades de gêneros reconhecidas e que possuem linguagens atribuídas a elas (ex: pessoas hijra). No entanto, esse conceito pode fazer algum sentido em culturas com idiomas originalmente mais neutros ou sem gênero que sofreram ou ainda sofrem influências ocidentais de colonização.

Segue abaixo uma bandeira de orgulho feita para NCLs:

Uma bandeira composta por cinco faixas. A primeira e a última faixas são maiores e do mesmo tamanho, enquanto as três do meio são menores e do mesmo tamanho. As cores são, de cima para baixo, violeta, bege, branca, violeta, bege.

Créditos a arco-pluris pela bandeira. A postagem original (em inglês) está aqui.

Concluindo, é um conceito que pode ser útil. Pode ser apenas um descritor, ou pode ser também uma identidade de orgulho; assim como NCG. Sintam-se à vontade para usar!

Publicado por Oltiel

Um pouco sobre mim: aporagênero (-/éli/e), polissexual, não-monogâmique, queer, militante LGBTQIAPN+, socialista, e mais umas coisinhas.

2 comentários em “Não-conformidade de linguagem

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