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Conceitos e termos sobre opressão e discriminação

Nota: esta lista pode ser atualizada à medida que questões de opressão e discriminação são desenvolvidas e novos termos são cunhados.

Há vários sistemas que seguem uma ideologia de exclusão e segregação contra grupos específicos de pessoas enquanto privilegia grupos “contrários”. Esses são os sistemas opressivos; e deles temos manifestações que são as discriminações.

Privilégios são sustentados por opressões. Afinal, se um lado está ganhando a mais, algum lado deve estar tendo de menos. Porém, vale ressaltar que nessa dinâmica entre os eixos privilégio-opressão existem nuances. Até quando o assunto é opressão não é tudo preto-e-branco. Há casos e casos, nada absoluto. E, dentro disso, temos situações de pessoas que “fogem” da opressão numa circunstância e pessoas sendo alvos de opressão maldirecionada.

Pensando nessa interseccionalidade que da teoria feminista surgiu o termo quiriarquia, que pode ser usado para definir um sistema social ou todo conjunto de sistemas sociais que colocam um indivíduo em posições de opressão e privilégio.

Antes de listar os sistemas e as discriminações, preciso conceituar três coisas:

Opressão maldirecionada: quando uma pessoa que não pertence a determinado grupo oprimido é vítima de alguma forma da opressão cometida contra aquele grupo. Um exemplo clássico são os casos de homens héteros sendo agredidos por serem confundidos com homens gays.

Opressão internalizada: quando uma pessoa de um grupo oprimido tem sentimentos e atitudes negatives contra o próprio grupo, porque tem aquela opressão tão naturalizada dentro de si que a comete com ou sem intenção e consciência. Portanto é o caso de pessoas reproduzindo a própria opressão que sofrem, como nos casos de gays praticando homomisia ou mulheres trans praticando transmisoginia.

Opressão horizontal/lateral: quando uma pessoa de um grupo oprimido comete opressão contra outro grupo oprimido, mas isso não lhe traz nenhum benefício. Exemplos: um homem trans praticando homomisia (isso não diminui o cissexismo que ele sofre) ou uma pessoa assexual praticando bimisia (isso não diminui o alossexismo que ela sofre).

  • Um tipo bem evidente e recorrente dessa opressão cometida entre pessoas de grupos oprimidos são as chamadas políticas de respeitabilidade. São ideias e ações que visam policiar pessoas do próprio grupo, para que sejam mais aceitáveis dentro do sistema, para que não desafiem as normas do(s) grupo(s) privilegiado(s).

Mas o que exatamente é opressão? Basicamente, tudo que facilita, reforça e mantém as seguintes formas de discriminação e todos os seus efeitos:

  • ausência de direitos garantidos;
  • negação de direitos;
  • exclusão de instituições e estabelecimentos;
  • exclusão social e cultural;
  • atos de ódio, o que inclui agressões físicas e/ou verbais, assédio moral, perseguições, discursos e homicídios/genocídios;
  • atitudes que desqualificam partindo de preconceitos ou pressuposições;
  • estereótipos e caricaturas;
  • apagamentos, silenciamentos e censuras;
  • hipersexualização, objetificação, e exotificação;
  • e policiamento e invalidação de identidades, perspectivas, vivências e/ou experiências.

Todas as opressões e discriminações são estruturais na sociedade, tão enraizadas e naturalizadas que se manifestam há muito tempo e de forma que parecem apenas a realidade comum do mundo. Educar os grupos oprimidos é essencial, para que tenham consciência das opressões sofridas e se mobilizem contra as mesmas.

Uma prática discriminatória muito comum e recorrente na sociedade, e que se encaixa em um ou mais dos itens citados acima, é a chamada microagressão. As microagressões costumam não ser intencionais, mas ainda atacam determinado(s) grupo(s). Podem ser piadas, gírias problemáticas, presunções, etc; e geralmente são praticadas a nível individual.

Aqui vou adicionar terminologias que definem cada sistema opressivo e discriminação que são diretamente relacionades à comunidade LGBTQIAPN+.

As discriminações não terão o sufixo –fobia usado comum e mundialmente, pois as fobias são quadros clínicos de medo e aversão irracionais que necessitam de tratamento. Os sistemas ensinam a sociedade a odiar os grupos marginalizados através de inúmeras mensagens (explícitas e implícitas), portanto há motivações e toda uma construção fora do âmbito clínico. O sufixo será então substituído por –misia, que vem do grego ódio.

Deixarei outra lista com outras terminologias aqui.

Heterossexismo (ou heteronormatividade): sistema que impõe a heterossexualidade (e demais atrações) como a norma e ataca toda atração fora dessa norma.

  • Homomisia: toda discriminação contra homens gays.
  • Lesbomisia: toda discriminação contra mulheres lésbicas. Faz intersecção com misoginia, o que a difere da homomisia.
  • Duaricismo: toda discriminação contra relações afetivas que não sejam entre um homem e uma mulher.

Monossexismo: sistema que impõe que pessoas devem se atrair por apenas um gênero, atacando atrações por mais de um gênero, atrações fluidas, e também atrações a-espectrais em certo nível.

  • Bimisia: toda discriminação contra pessoas bi.

Obs: há pessoas bi que se consideram também alvo de homomisia/lesbomisia.

  • Panmisia: toda discriminação contra pessoas pan. Pode ser cometida por pessoas bi que não aceitam essa identidade.
  • Multimisoginia: toda discriminação contra mulheres multi.

Alossexismo: sistema que coloca a alossexualidade (e demais tipos de atrações) como o padrão e comum das pessoas, atacando toda pessoa a-espectral.

  • Amisia/Acemisia: toda discriminação contra pessoas assexuais e dos espectros A.

Amatonormatividade: sistema que coloca a presença de romanticidade frequente e constante como padrão e normal na vida das pessoas, com isso atacando pessoas arromânticas e do espectro, e também pessoas não-monogâmicas em certo nível.

  • Aromisia: toda discriminação contra pessoas arromânticas e do espectro.

Periorientismo: toda discriminação contra pessoas variorientadas.

Cissexismo (ou cisnormatividade): sistema que impõe a cisgeneridade como a norma e ataca toda identidade e expressão de gênero fora de seus padrões.

  • Transmisia: toda discriminação contra pessoas trans. Refere-se quase sempre a pessoas trans binárias. Travestis e pessoas não-binárias podem ou não se considerar vítimas de transmisia.
  • Travestimisia: toda discriminação contra pessoas travestis.
  • Transmisoginia: toda discriminação contra mulheres trans e possivelmente travestis e pessoas transfemininas.
  • Transmedicalismo: toda ideia e ação que reforça que pessoas trans devem ter disforias de gênero, que devem ter vontade de fazer cirurgias e/ou hormonizações; o que coloca a transgeneridade numa condição patologizante.
  • Maldenominação: toda ação que envolve desrespeitar a identidade de gênero de alguém, tratando a pessoa como de outra identidade (através de afirmações e/ou não respeitando a linguagem pessoal).
  • Desgenerização: fenômeno que envolve negar uma identidade de gênero, mesmo que a designada, a uma pessoa por diversos motivos (ex: questões corporais, raciais, de orientação ou expressão de gênero, etc). Um exemplo é quando se negam a tratar pessoas trans binárias por qualquer linguagem de gênero.
  • Conformismo de gênero: toda discriminação contra pessoas não-conformistas de gênero num geral e toda expressão de gênero que não seja aceita.

Exorsexismo: subtipo de cissexismo que impõe os gêneros binários como os únicos reais e possíveis de existir. Pode se estender para invalidação de determinadas identidades não-binárias e a discursos contra neolinguagens.

  • Enebemisia: toda discriminação contra pessoas não-binárias.
  • Exormisoginia: toda discriminação contra pessoas não-binárias que são parcialmente mulheres ou que se consideram vítimas de misoginia.
  • Exortransmisoginia: toda discriminação contra pessoas não-binárias transfemininas.
  • Reducionismo de gênero: ações exorsexistas que reduzem as pessoas não-binárias a um dos gêneros binários (pelo “sexo”, pela aparência, pelo contexto social, etc).
  • Monogenerismo: a ideia de que as pessoas só podem ter um gênero.
  • Binarismo: pode ser usado para toda discriminação contra pessoas fora do binário ocidental de gênero-sexo; ou seja, pessoas trans e não-binárias, pessoas intersexo, e pessoas de identidades de gênero culturalmente restritas (de povos originários de qualquer continente). Também é usado para a imposição de papeis de gênero.
  • Etnobinarismo: termo específico para a intersecção entre exorsexismo e racismo, que descreve toda discriminação contra identidades de gênero culturalmente restritas.

Diadismo: sistema que impõe a existência de apenas dois sexos “biológicos” com um dismorfismo perfeito, atacando qualquer outro sexo fora esses.

  • Inter(sexo)misia: toda discriminação contra pessoas intersexo.

Diciseterossexismo: combinação de diadismo, cissexismo, e heterossexismo; todos os sistemas opressivos que atacam a comunidade LGBTQIAPN+ e qualquer outra pessoa fora das normas peri-cis-hétero.

  • Queermisia: toda discriminação contra pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, ou pessoas que se identificam especificamente como queer.

Aqui estão todos os termos relevantes.

Dúvidas? Pergunte.

Links adicionais:

Ume Garote Alternative – Discriminações não são fobias

Orientando – Por que não utilizar o termo LGBTfobia?

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