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Este é outro conceito formulado por mim em meio a pesquisas e reflexões minhas sobre gênero. Isso foi em 2018, e a postagem onde citei o termo pela primeira vez é essa.
Dentro desse tema, existem quatro grandes projeções/arquétipos/essências/qualidades usades para explicar e/ou definir identidades de gênero, expressões de gênero, e experiências relacionadas a gênero. Elus são: feminine, masculine, neutre e andrógine. Ou seja, aqui temos quatro conceitos: feminilidade, masculinidade, neutralidade e androginidade. Além desses, podemos incluir a nulidade (a ausência de gênero) e a xeninidade (concepções de gênero totalmente fora de lógicas e ideias humanas ou convencionais).
Pois bem. Apesar disso tudo, dentro do que sei e entendo, percebi que faltava ainda mais um conceito, um conceito que pudesse englobar o que não era feminine, masculine, neutre, andrógine, mas que não era também nule, nem xenine.
Já existe na anglosfera esse mesmo conceito, mas com um nome derivado de duas identidades de gênero: maverique e aporagênero. Eu quis cunhar um novo nome e conceito por motivos de: não queria algo que remetesse a essas identidades específicas e suas definições, não queria algo que implicasse ter relação com identidades criadas num contexto ocidental, e queria uma palavra nova e mais abrangente sem controvérsias.
Pensei e pensei, e me veio outerine; consequentemente, o adjetivo outerinidade.
Antes de tudo, ressalto que outerine não é xenine, pois ainda é uma concepção que existe dentro de lógicas e ideias humanas e convencionais. É apenas tudo que preenche um vácuo deixado entre os quatro conceitos “principais” e que também é algo presente (ou seja, não é nule). E não é apenas ume quinte (ou sétime) projeção/arquétipo/essência/qualidade. Outerine engloba tudo que ainda não tem um nome e que não pode ser explicado apenas pelos conceitos que já existem.
Costumo fazer analogias com cores quando vou falar desses assuntos. Vou colocar dessa forma: se feminine é rosa, masculine é azul, neutre é cinza, andrógine é roxo, e nule é transparente, outerine seria amarelo, verde, laranja, etc. Poderia até ser as cores que humanes não conseguem ver, como infravermelho e ultravioleta. E xenine? Bem, pode até ter todas as cores possíveis, mas é um conceito que vai muito além disso.
Tudo isso é extremamente subjetivo, mas ainda coisas que podemos imaginar, mentalizar, experienciar, ou sentir de alguma forma. Portanto, outerinidade fará mais sentido para quem consegue se encaixar de alguma forma nesse conceito.
Enfim. Explicando com exemplos mais concretos, outerine pode ser algo:
- totalmente único e sem relação nenhuma com os conceitos anteriores; ou
- que, embora seja único, pode ainda ser comparado com os conceitos anteriores; ou
- novo que surge de combinações entre dois ou todos os conceitos anteriores.
Vou dar exemplos de identidades que são ou podem ser outerinas e explicar cada um:
– Maverique: dentro de seu conceito, outerine faz todo sentido.
– Aporagênero: dentro de seu conceito, outerine faz sentido, embora pessoas não precisem se encaixar estritamente na definição.
– Egogênero: um gênero único e exclusivo da própria pessoa pode ser outerino.
– Antigênero: a “qualidade oposta” de um gênero pode ser outerina, visto que a ideia de oposto aqui não é algo como “feminine-masculine”.
– Intergênero: um gênero influenciado por intersexualidade pode ser outerino, se qualquer outro conceito não se aplicar aqui.
– Neurogênero: um gênero influenciado por neurodivergência pode ser outerino, se não for xenino e não puder ser explicado por nenhum outro conceito.
– Qualquer identidade indefinida/desconhecida/incompreensível: se nada do que já existe consegue descrevê-la, talvez outerine consiga ou possa servir.
– Qualquer identidade com definições muito amplas: alguém que se define apenas como não-binárie, ou genderqueer, ou homem não-binárie/mulher não-binárie, e etc. pode talvez explicar sua identidade como outerina.
– Identidades culturalmente restritas: se e somente se a pessoa acreditar que todos os conceitos já mencionados não se aplicam a sua identidade, e deseja um conceito para se descrever.
Com certeza poderia haver outros exemplos, mas acredito que até aqui está evidente quais identidades de gênero são ou podem ser outerinas por natureza.
Ressaltando que outerine não é algo apenas para identidades. Pessoas também podem definir sua expressão de gênero como outerina, ou dizer que seu gênero tem alguma conexão com outerinidade, enfim.
Ah, e só de curiosidade, muito depois de eu formular esse conceito acabei percebendo que o mesmo serve para descrever minha própria identidade de gênero. Coisas da vida, né?
Acredito que isso é tudo que eu poderia explicar sobre o conceito de outerinidade.
Um comentário em “Outerinidade”